InícioAtualidadeSaúdeCOMO UMA TÉCNICA GENÉTICA PODE AJUDAR NO COMBATE À MALÁRIA

COMO UMA TÉCNICA GENÉTICA PODE AJUDAR NO COMBATE À MALÁRIA

Pesquisadores de um consórcio internacional pretendem testar população de mosquitos modificada na natureza até 2024. 

A malária  é uma das doenças infecciosas que mais fazem vítimas no mundo. Em 2016, segundo dados da OMS  (Organização Mundial de Saúde), 216 milhões de pessoas de 91 países – 90% deles na África subsaariana – foram infectadas pela doença. Dessas, 445 mil morreram.

Avanços obtidos por pesquisadores britânicos recentemente, no entanto, dão esperanças de que a malária se tornará um problema menor para a saúde pública mundial em um futuro não muito distante. 

Em artigo publicado na revista Nature nesta segunda-feira (24), o cientista Andrea Crisanti relata como ele e sua equipe conseguiram extinguir em laboratório uma população do mosquito Anopheles gambiae por meio de alteração genética. 

“Essa é a primeira vez que mostramos que podemos, a princípio, manipular o destino de uma espécie inteira”, disse Crisanti à revista Wired . “Estamos muito empolgados. Isso muda tudo. É uma completa nova era na genética”, afirmou . 

O laboratório de Crisanti, no Imperial College, de Londres, é um dos que compõem o Target Malária  (algo como “mire na malária”), um consórcio internacional de pesquisas, sobretudo na área da genética , voltado para a eliminação da doença no mundo.

O projeto conta com pesquisadores e instituições nos Estados Unidos, Itália, Uganda, Mali e Burkina Faso; e é financiado principalmente pela fundação de Bill e Melinda Gates . 

Como funciona

Os pesquisadores britânicos fazem uso de uma técnica de engenharia genética conhecida como CRISPR-Cas9. Por meio dela, é possível alterar trechos específicos do código genético.

A ideia por trás do trabalho de Crisanti é alterar o DNA de um grupo de mosquitos, plantando uma espécie de armadilha que será espalhada a outros indivíduos normais da espécie no meio ambiente.

A armadilha, no caso, é uma alteração no gene de determinação de sexo que faz com que fêmeas doAnopheles gambiae desenvolvam características intersexuais, deixem de picar pessoas e de produzirem ovos. 

A mudança genética é aplicada nos machos da espécie, os quais serão os responsáveis por espalhar a armadilha entre as fêmeas. As que tiverem apenas uma cópia da mutação genética continuarão sem mudanças morfológicas e seguirão saudáveis, gerando novos indivíduos com o gene alterado. A mudança só se desenvolverá nas fêmeas que tiverem duas cópias do gene modificado, tornando-as incapazes de se reproduzir e de espalhar a doença.

No caso da população de mosquitos testada no laboratório da Imperial College, os indivíduos foram “contaminados” pela alteração genética entre 7 e 11 gerações da espécie, o que levou cerca de seis meses.

A técnica promissora é testada em mosquitos de outras espécies, vetores de outras doenças, como é o caso do Aedes aegypti  e a dengue, zika ou chikungunya. 

Questão ética

O fato de o resultado ter sido positivo em laboratório não significa que a solução está pronta para ser aplicada na natureza. Engenharia genética exigem cautela, ainda mais quando ela pode levar ao fim de uma espécie inteira.

Assim, embora os pesquisadores garantam que o gene alterado não tem capacidade de sofrer mutações, será preciso observar como a espécie modificada se comporta em meio a indivíduos não modificados e a eficácia da aplicação da técnica – para funcionar, os machos modificados terão de ser capazes de competir com outros machos para que o novo DNA se espalhe – e sob os diferentes climas na África subsaariana. 

“Em algum momento a ciência estará pronta. E aí será uma questão de aceitação pública e marco regulatório, que precisarão vir em seguida”, disse Delphine Thizy, diretora de engajamento da Target Malaria à Wired. Segundo a revista, nenhum país do mundo conta com uma regulação sobre liberação de animais geneticamente modificados na natureza.

Os testes em campo estão programados para acontecer em 2024. Antes disso, no entanto, os cientistas devem enfrentar a oposição de quem desaprova a liberação dessas espécies modificadas na natureza, além de  garantir que o ecossistema e as populações humanas locais não serão prejudicados.

“A África se tornou um campo de prova para tecnologias que ainda não se provaram – uma tecnologia que ninguém pode dizer que é garantidamente segura. Nós temos um problema com isso”, disse Nnimmo Bassey, diretor nigeriano da organização ambiental Health of Mother Earth Foundation (Fundação Saúde da Mãe Terra) à rádio pública americana NPR . 

TN com informações do Nexo

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